A Revolta de Beckman, insurreição popular que aconteceu no Maranhão, entre 1684 e 1685, motivada pela insatisfação da população com a administração colonial, completa
340 anos
neste sábado (24).Cabe frisar que diversos intelectuais abordaram em suas obras este importante episódio da História do Maranhão, entre os quais a poetisa Stella Leonardos, os escritores João Francisco Lisboa, Sabbas da Costa, Clodoaldo Freitas, Bernardo Coelho de Almeida e Milson Coutinho.
Sobre o tema, o poeta, jornalista e prosador Bernardo Coelho de Almeida escreveu o romance “O Bequimão”. Trata-se de um livro histórico que conta a saga de Manoel Beckman (1630-1685), líder da Revolta de Beckman e patrono da Assembleia Legislativa do Maranhão.
É importante lembrar que, além de brilhante jornalista, Bernardo Almeida tornou-se grande escritor. E chamou para si a difícil tarefa de escrever um livro sobre este ilustre desconhecido: Manoel Beckman.
De igual modo, é importante lembrar também que o historiador e jornalista Milson Coutinho consagrou sua vida ao estudo de nomes luminares como o de Manoel Beckman e lançou, no ano de 1984, “A Revolta de Bequimão” em homenagem ao herói denominado por ele como o primeiro mártir da independência do Brasil.
Por meio de um acurado trabalho de pesquisa, cuja edição original de 1984 coincidiu com o tricentenário da rebelião, deflagrada em São Luís no dia 24 de fevereiro de 1684, esta obra reconstrói todo o contexto histórico em que se deu o movimento liderado por Manoel Beckman.
“Na luta pela liberdade no continente americano, Manoel Beckman se antecipou a Jefferson, Tiradentes e Bolívar”, enaltece o autor, sem nenhum receio de revelar sua admiração pelo grande líder.
Em seu livro, Milson Coutinho conta que, na São Luís daquela época, “as desordens, as lutas e os escândalos em que viveu a terra desde que se expulsaram os franceses, foram tomando um caráter de violência crescente”. E é neste ambiente de agitação que estoura a notícia de que fora concedido a uma empresa de Lisboa, por 20 anos, o privilégio exclusivo do comércio no Maranhão.
Considerado mártir da luta dos maranhenses contra a exploração portuguesa, Beckman liderou a Revolta de Bequimão, também chamada de Revolta do Estanco, que aconteceu exatamente em 24 de fevereiro de 1684, dia da procissão do Senhor dos Passos, cuja imagem se trasladaria da Igreja do Carmo para o templo da Misericórdia.
Era a Semana Santa, no calendário litúrgico do Maranhão, um dos motivos do deslocamento de muitas famílias residentes no interior para suas casas em São Luís. Aproveitando a procissão, reuniu-se o povo num dos extremos da cidade, na chamada Cerca dos Capuchos, e foi ali que Manoel Beckman, com um discurso, sublevou a multidão. Era de noite, já tarde. A massa humana se deslocou para o interior da cidade, e foi despertando o resto da população, a gritar, a bater nas portas.
A onda humana cresceu, espalhou-se, tendo à frente Manoel Beckman, e dominou forças armadas, religiosos, autoridades. Diz-nos o padre Bettendorff, no relato do motim, que até os meninos das escolas engrossaram a turba, trazidos pelos pais. Foi nessa circunstância em que ocorreu o levante e a deposição do governador geral Francisco de Sá Menezes e do capitão-mor Baltasar de Sousa Fernandes.
Manoel Beckman criou um governo provisório. Enviou seu irmão Tomás a Portugal para negociar, em nome dos revoltosos, com as autoridades. Preso em Lisboa, Tomás voltou ao Brasil em 1685, na mesma frota que trouxe o novo governador, General Gomes Freire de Andrade. Com a chegada do novo governante, os revoltosos foram presos.
A captura do líder da revolução, por ordem expressa de Gomes Freire de Andrade, tornou-se possível graças à delação de Lázaro de Melo de Freitas, afilhado de Bequimão, seu protegido e pessoa influente no governo rebelde. Tomás foi condenado ao desterro e Manoel Beckman, condenado à forca.
Deu-se o fato na manhã de 10 de novembro de 1685. Bequimão morreu enforcado, aos 55 anos de idade, na antiga Praia do Armazém, local onde hoje existe a praça que o homenageia na Avenida Beira Mar, em São Luís.
Além de Bequimão subiu à forca Jorge de Sampaio de Carvalho, um de seus principais companheiros de revolta. Francisco Dias Deiró, por ter fugido, foi enforcado em efígie; Belchior Gonçalves, açoitado e proscrito; Eugênio Ribeiro Maranhão e Tomás Beckman, advogado, poeta e irmão do líder da fracassada revolta, foram mandados presos para o Reino.
Ao ser executado em praça pública, Beckman encarou a morte com serenidade. Como verdadeiro cristão, do alto do patíbulo, em voz alta, pediu perdão a quem acaso tivesse ofendido. Em seguida, ele proferiu altivamente a célebre frase:
“Pelo povo do Maranhão, morro contente!”
Fonte : Manoel Santos, jornalista , escritor e pesquisador.